domingo, 29 de novembro de 2009

A Plenitude dos Tempos



Hoje a História da humanidade se divide em antes e depois de Cristo. Além da Bíblia, a Palavra viva de Deus, outras obras literárias de menor valor nos ajudam a compreender através de extensas pesquisas e estudos de seus autores quem era Cristo, o que Ele fez e como a Sua mensagem se espalhou por todo o mundo em tão pouco tempo transformando inúmeras vidas ao longo dos séculos. Segue abaixo um resumo que fiz do primeiro capítulo do livro Dois Reinos.

O apóstolo Paulo afirma que Cristo veio ao mundo na plenitude dos tempos, ou seja, o tempo quando Deus, em sua presciência e providência, já tinha visto o cumprimento de seu propósito eterno em Cristo. Todas as peças do quebra-cabeça estavam no lugar. O tempo propício que Lhe aprouve intervir na história do homem: “E quando veio a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas 4:4).

Para melhor entendimento da manifestação do Cristo ao mundo faz-se necessário uma análise criteriosa do contexto daquela época, que neste caso, desdobra-se numa dimensão política, religiosa e intelectual.

O Contexto Político

Em 63 a.C. o mundo mediterrâneo estava sob o domínio do império romano. Seu governo foi estabelecido sobre a Palestina ficando a Judéia subordinada a este governo. Roma pretendia ser a coordenadora de todo o mundo habitado. Haja vista que o Império Romano possuía a maior e melhor estrutura política do mundo antigo.

Otaviano (“Augusto”) já havia se tornado imperador e iniciado a Pax Romana, expressão latina para “a paz romana”. Apesar de guerras esporádicas nas fronteiras, foi um longo período de relativa paz gerada pelas armas e pelo autoritarismo experimentado por todo o Império Romano. Assim Roma pôde transmitir elementos próprios da cultura, religião e língua latina às regiões onde se fixavam seus exércitos. Nessa época Jesus nascia em Belém, na Judéia, para onde seus pais tinham viajado por causa de um censo.

Herodes Antipas, mais conhecido como o Grande, rei da Judéia, apesar das notáveis construções realizadas durante seu reinado, dentre estas podemos citar a reforma do Templo dos judeus, a Cesaréia (porto marítimo de águas profundas no Mediterrâneo) e o palácio monumental, Herodes era um rei paranóico, brutal e desconfiado que chegou a matar alguns membros de sua própria família e, atemorizado com a profecia do nascimento do Messias, decretou a matança de todas as crianças pequenas da região.

Apesar de um povo dominado, os judeus gozavam de privilégios especiais junto a Roma. Tinham permissão de observar o Sábado, isenção do serviço militar e o direito de enviar ofertas ao Templo em Jerusalém.

O Contexto Religioso

O contexto religioso vislumbrava-se no judaísmo (língua: hebraica). No primeiro século depois de Cristo existiam diversas seitas judaicas importantes: os samaritanos, saduceus, fariseus, essênios e zelotes.

Os mestiços samaritanos viviam ao norte da Judéia. Eram os mais desprezados e se apegavam à sua própria versão da Torá (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento). Prestavam culto no monte Gerizim, onde construíram seu próprio templo após retornarem do exílio e, apesar do templo ter sido destruído em 128 a.C. os samaritanos continuaram a utilizar este monte como o seu local de sacrifício e adoração.

Os saduceus eram a maioria no Sinédrio (concílio ou suprema corte de judeus, composto de 70 homens). Afirmavam serem descendentes da linhagem de reis e sacerdotes, aceitavam somente a autoridade da Torá e não acreditavam em anjos e na ressurreição do corpo. Muitos eram da aristocracia que controlavam o ofício de sumo-sacerdote.

Os fariseus, grupo judeu extremamente rígido, eram minoria no Sinédrio. Muitos deles eram escribas, ou seja, mestres da lei que interpretavam as Escrituras segundo as tradições orais que vinham desde Moisés. Tratavam as leis com zelo excessivo oprimindo e exigindo o mesmo dos judeus. Faziam acordos que contemplavam seus próprios interesses com as autoridades romanas, mesmo que fossem na contramão aos interesses de liberdade do seu povo.

Os essênios eram um grupo de separatistas, a partir do qual alguns membros formaram uma comunidade monástica ascética que se isolou no deserto. Adotaram uma série de condutas morais que os diferenciavam dos demais judeus: aboliam a propriedade privada, eram vegetarianos, contrários ao casamento, tomavam banho antes das refeições e a comida era sujeita a rígidas regras de purificação. Não tinham amos nem escravos. Dentre as comunidades tornou-se conhecida a de Qumran pelos manuscritos em pergaminhos que levam seu nome, também chamados Pergaminhos do Mar Morto ou Manuscritos do Mar Morto.

Os zelotes eram uma seita e partido político judaico. Constituíam a ala radical dos fariseus e preconizavam Deus como o único dirigente, o soberano da nação judaica, opondo-se à dominação romana. O nome "zelote" vem exatamente da palavra "zelo", significando que esses homens tinham excessivo zelo por Deus.

O Contexto Intelectual (pensamento predominante)

Quando Jesus nasceu o pensamento grego estava no seu apogeu. Predominavam a língua e o pensamento gregos e a Filosofia foi a principal contribuição da Grécia.

Seguia-se uma expansão da arte religiosa a serviço dos imperadores divinizados. Os temas referiam-se, sobretudo à imortalidade da alma e à vida depois da morte. Os romanos sofreram grande influência por parte da cultura grega. Seus imperadores obrigavam o povo a adorar os deuses gregos pagãos e aplicavam duras penas a quem se recusasse a fazê-lo.

Enfim...

É neste caldeirão cultural da história que Jesus aparece com o objetivo de direcionar o mundo para o projeto de Deus. Este, pois, é também o conceito cristão da história. A humanidade tem um início na criação e caminha para o fim da história, a saber, a concretização dos planos de Deus.

Aos 33 anos, Jesus é oferecido pelos pecados do mundo na Cruz do Calvário e dias depois à Sua Ressurreição Ele é tomado pelas nuvens e ascende aos céus para sentar-se à direita do Pai. A plenitude do tempo tinha chegado; a obra redentora que converge em Cristo: “na dispensação da plenitude do tempo, todas as cousas, tanto as do céu como as da terra” (Efésios 1:10).

Apenas uma coisa faltava - a saber a revelação do grande plano de Deus aos homens ignorantes, ignorantes não no sentido pejorativo. Eram ignorantes aquelas pessoas que ainda não possuíam uma compreensão ou discernimento corretos da revelação, ou seja, que Jesus Cristo era o Messias prometido desde o Gênesis (Proto-evangelho). 


Então é chegado o dia de Pentecostes, onde o Espírito Santo de Deus desce sobre a comunidade cristã em Jerusalém na forma de línguas de fogo e todos ficam cheios desse Espírito. As prímicias da colheita aconteceram naquele exato momento como o livro de Atos nos relata, pois foram muitos os que se converteram e foram recolhidos para o Reino.

O Messias estabeleceria um reinado que nunca seria destruído. Seu governo soberano encheria toda a terra, transcendendo as fronteiras arbitrárias dos homens e as limitações do tempo.

Nascia a Igreja de Cristo!

sábado, 14 de novembro de 2009

E quem é o meu próximo?

"E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando a Jesus, e dizendo:
_ Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

E Jesus lhe perguntou:
_ Que está escrito na lei? Como lês?
E, respondendo ele, disse:

_ Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
E Jesus lhe disse:
_ Respondeste bem; faze isso, e viverás.
Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, perguntou a Jesus:

_ E quem é o meu próximo?
E, respondendo Jesus, disse:


_ Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois denários, e deu-os ao dono da hospedaria, e disse-lhe: _ Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu te pagarei quando voltar.

_Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?

E o doutor da lei disse:
_ O que usou de misericórdia para com ele.
Disse, pois, Jesus:
_ Vai, e faze da mesma maneira."





O amor é a base do relacionamento do ser humano com Deus e com seu próximo. Mas a maioria tem confundido amor com sentimento. O caso de um maltrapilho ferido e caído na rua causa sentimento de compaixão àqueles que o vê. Entretanto, quantos têm a coragem de estender a mão e ajudá-lo?

Jesus mostra claramente a diferença entre o “amor sentimento” do amor verdadeiro quando conta a história do bom samaritano. (Lucas 10:30). O verdadeiro amor é dirigido ao próximo, independentemente se é ente querido, amigo ou estranho.

Esse tipo de amor é paciente, é benigno, não arde em ciúmes, não é arrogante, não se ensorberbece, não se conduz de forma inconveniente, não procura seus próprios interesses, não se exaspera nem se ressente do mal… E envolve muito sacrifício… Por isso, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta… (1 Coríntios 13)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O significado da Cruz de Cristo segundo Anselmo de Cantuária



Deus criou a humanidade para que pudéssemos ter vida eterna, mas o pecado infelizmente interveio para impedir que a obtivéssemos sem ajuda. Se é para termos vida eterna, Deus terá de fazer algo a respeito [Ele terá que intervir na História da Humanidade].

Deus não pode fazer de conta que o pecado não existe ou considerá-lo irrelevante. É uma força que tratou de interromper tudo o que ele havia planejado para sua criação. Um remédio que desfaça os efeitos do pecado, ainda que leve seus aspectos morais a sério, deve ser encontrado. Anselmo deu ênfase ao pecado como problema moral. Ele não pode ser simplesmente ignorado, mas deve ser confrontado.

Então, como a ofensa do pecado pode ser removida? Como pode o pecado ser perdoado justamente, de maneira que abranja tanto a ofensa causada a Deus pelo pecado quanto seu generoso amor?

Ao responder essa questão, Anselmo formula uma analogia vinda dos tempos feudais. Na vida comum, uma ofensa contra alguém pode ser perdoada desde que algum tipo de compensação seja oferecida em contrapartida. Anselmo se refere a essa compensação com uma "satisfação". Vejamos, por exemplo, um homem que rouba uma quantia de dinheiro. Para satisfazer as exigências da justiça, ele teria de devolver o dinheiro além de uma quantia adicional pela ofensa do roubo. Essa quantia adicional é a "satisfação".

Anselmo argumenta que o pecado é uma ofensa séria contra Deus, e ela exige uma satisfação. Como Deus é infinito, essa satisfação deve ser também infinita. Mas por sermos finitos, não podemos pagar por ela. Parece impossível, então, que tenhamos vida eterna.

Mas esse não é o fim da questão! Deus deseja que sejamos salvos - e salvos de maneira a preservar tanto a misericórdia quanto a justiça dele. Embora nós, como seres humanos pecadores, devêssemos pagar pela propiciação de nosso pecado, a verdade é que não podemos. Simplesmente não temos os requisitos ou a habilidade para quitar esse débito. Em contrapartida, ainda que Deus não tenha nenhuma obrigação de pagar por isso, ele ainda assim o faria, se quisesse.

Então, Anselmo assevera, fica claro que um Deus-homem seria, ao mesmo tempo, capaz e obrigado a pagá-la. Assim, a morte de Jesus Cristo, como Filho de Deus, é o meio de resolver esse dilema.

Como ser humano, Cristo tem a obrigação de pagá-la; como Deus, ele tem a habilidade de pagá-la. A dívida, então, está paga e nós podemos recuperar a vida eterna. A teoria de Anselmo mostra como a morte de Cristo permite que Deus perdoe nossos pecados sem esquecer sua justiça.

A conexão entre a morte de Cristo e nossa redenção não é inexistente e tampouco arbitrária. Como Anselmo demonstra, há uma relação real e importante entre a cruz e o perdão. Essa relação nos permite ver o sentido da cruz e ampliar a consciência da maravilha que é nossa redenção e do Deus que graciosamente nos redime.

O preço pago por Deus para nos oferecer o perdão foi alto. Seu Filho morreu para que pudéssemos ser perdoados. Essa idéia maravilhosa nos ajuda a perceber quanto Deus nos ama. E deve até nos dar uma idéia de quanto amor devemos retribuir-lhe!

(Trecho retirado do livro Teologia para Amadores de Alister McGrath)


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Dá-me o pão que me for necessário


"...não me dês nem a pobreza nem a riqueza;
dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que,
estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR?
Ou que, empobrecido, venha a furtar
e profane o nome de Deus"
- Provérbios 30.8-9