sábado, 29 de maio de 2010

Perguntas Básicas acerca do Perdão



Deus realmente perdoa pecados?

Sim. A Bíblia é clara em afirmar que Deus “se esquece” dos pecados (Is 38.17; 43.25; Mq 7.18; Hb 8.12; 10.17). Ainda que tal expressão seja metafórica, isto é, comparativa, e antropomórfica, isto é, atribui a Deus atitudes humanas (neste caso, o esquecimento), a mensagem bíblica é clara: Deus perdoa os pecados.

Qualquer pecado?

Novamente, a resposta é um sonoro “sim”. A Bíblia fala do perdão divino concedido a pecados terríveis, como adultério e assassinato (no caso de Davi), e covardia (no caso de Pedro, que negou a Jesus). Estes são exemplos conhecidos. Há pelo menos um exemplo eloqüente e ilustrativo de que Deus perdoa qualquer pecado — um exemplo menos conhecido, mas talvez ainda mais impressionante que os anteriores. Trata-se da narrativa concernente ao rei Manassés, culpado de feitiçaria, massacres e crimes hediondos que incluíam até o sacrifício de seu próprio filho (2 Rs 21.1-9; 16). No entanto, arrependeu-se e foi perdoado (2 Cr 33.10-13, 18, 19 e 23).

O pecador precisa fazer alguma coisa para ser perdoado?

Não, se pensarmos em termos de merecer o perdão por méritos. Em outras palavras: à luz do ensino bíblico, não há nada que a criatura humana possa fazer para merecer o perdão. Sim, se pensarmos na necessidade do arrependimento e da fé em Cristo Jesus que todos precisam ter para que sejam perdoados. É oportuno citar: “pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” (Ef 2.8,9.)

O perdão de Deus é de uma vez só ou repetitivo?

Em um sentido, o perdão é dado uma única vez. A Bíblia apresenta o perdão como uma realidade presente, e não apenas como uma realidade futura: “se alguém está em Cristo, é nova criatura” (2 Co 5.17). Observe-se que o verbo ser está no tempo presente. Para quem está em Cristo, o perdão já é real hoje. Entretanto, cada vez que aquele que está em Cristo comete pecado, ele deve confessar sua falta e buscar o perdão divino: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9).

Assim como se fala em ricos e pobres, brancos e negros, sábios e ignorantes, é correto falar em perdoados e não-perdoados?

Sim, pois a Bíblia não ensina que o perdão será distribuído “por atacado” para todas as pessoas, independentemente se queiram ou não ser perdoadas. O perdão é para aqueles que se reconhecem pecadores. Por mais desagradável que seja aos ouvidos modernos, não há promessa de perdão para os obstinados, aqueles que se recusam a admitir seus erros.

A ala reformada da igreja cristã proclama que a possibilidade do perdão termina com a morte. Na outra vida, aquela que se inicia com a morte, o perdão é mesmo impraticável?

Sim. Biblicamente falando, não há qualquer evidência que sirva de base para uma crença em perdão post-mortem. Grupos cristãos que crêem em tal possibilidade baseiam-se em tradições e em construções teológicas elaboradas a partir de raciocínios, mas não em um claro e inequívoco ensino bíblico.

O anjo que anunciou o nascimento de Jesus aos pastores de Belém chamou-o de Salvador. O mesmo fazem os apóstolos ao correr do Novo Testamento. Em que sentido Jesus é “o Salvador do mundo” (Jo 4.42)?

No sentido em que Ele veio para salvar, sem discriminação de raça, sexo ou condição social, econômica e cultural. É sugestivo e significativo o relato da genealogia de Jesus conforme Lucas (Lc 3.23-38), que apresenta o Salvador como descendente de Adão. Segundo este relato, Jesus é parente de toda a humanidade. Também é sugestiva e significativa a visão de João, de uma multidão que ninguém podia contar, constituída de pessoas salvas pela graça, provenientes de toda nação, tribo, povo e língua (Ap 7.9,10). Jesus concede salvação pela sua graça, como já vimos. Neste sentido, Ele é o Salvador do mundo.

Respostas oferecidas por Carlos Caldas, professor do programa de pós-graduação em ciências da religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O Difícil Auto-Exame

αγαπας

Continuo a leitura do livro mencionado no meu último post e agora me encontro no capítulo III que relata o maior dos frutos do espírito - o amor ÁGAPE. Nele o autor tenta determinar o melhor significado para esta palavra e encontra na Palavra este significado. Na passagem básica em Mt 5.43-48, o próprio Jesus insiste em que o amor humano deve seguir o padrão do amor de Deus. E qual é a grande característica do amor de Deus? Deus faz vir chuvas sobre justos e injustos, e faz nascer o sol sobre maus e bons. Logo, o significado de ágape é a benevolência invencível, a boa vontade que nunca é derrotada. Ágape é o espírito no coração que nunca procurará outra coisa senão o sumo bem do seu próximo. Não se importa com o tratamento que recebe do seu próximo, nem com a natureza dele; não se importa com a atitude do próximo para com ele, nunca procurará outra coisa a não ser o sumo bem do próximo, o melhor para ele.

O amor cristão é o reflexo do amor de Deus, e dele obtém seu padrão e poder. Este amor é totalmente imerecido, porque a prova dele é que, enquanto éramos pecadores, Cristo morreu por nós (Rm 5.8). O processo inteiro da salvação tem seu início no amor de Deus, não merecido por nós. Além disso, o amor de Deus é um amor que produz e transforma. É aquele amor que, derramado no coração dos homens, produz as grandes qualidades da vida e do caráter cristãos (Rm 5.3-5).

Num dos trechos do livro o autor menciona Efésios 3.19 onde está escrito que "o amor excede todo entendimento", ou seja, o amor é sempre um mistério. Qualquer pessoa que é amada fica atônita, perguntando a si mesma por que aquilo acontece. O amor de Cristo não é algo a ser explicado; é algo diante do qual o homem somente pode maravilhar-se, prestar culto e adorar. O amor de Jesus Cristo é o padrão da vida cristã, ou seja, o cristão deve andar conforme Cristo o amou (Ef 5.2). O cristão não é perseguido pelo medo a fim de ser bom; é elevado até a bondade mediante a obrigação do amor que desperta a generosidade que está adormecida na alma.

Paulo escreve aos coríntios "Todos os vossos atos sejam feitos com amor" (1Co 16.14). O Sermão do Monte nos deixa sem dúvidas quanto à importância dos motivos do coração na vida cristã (Mt 5.21-48). Há um tipo de generosidade cujo motivo principal é obter prestígio. Há um tipo de advertência e repreensão que brota do deleite em ferir as pessoas e em vê-las afastando-se. Há até mesmo um tipo de labuta e serviço que provém do orgulho. O autor também nos adverte ao lembrar que um dos deveres mais negligenciados da vida cristã é o auto-exame, e talvez isto seja negligenciado por ser um exercício muito humilhante. Se nos examinarmos, é bem possível que descubramos que não há quase nada neste mundo que façamos com motivos puros e sem mistura. Ainda que seja assim, devemos continuar a colocar diante de nós o padrão pelo qual devemos viver, a insistência de que o único motivo cristão é o amor.

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Um pouco de grego antigo:

"Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeirinhos. Tornou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Pastoreia as minhas ovelhas. Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Entristeceu-se Pedro por lhe ter perguntado pela terceira vez: Amas-me? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas". João 21: 15-17

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σιμων ιωνα αγαπας με πλειον τουτων;
Simão de João amas me mais do que estes?

δευτερον λεγει αυτω ναι κυριε συ οιδας οτι φιλω σε
segunda vez diz a ele sim Senhor tu sabes que gosto de ti

quarta-feira, 19 de maio de 2010

ERITHEIA


B: facções; ARC: pelejas; ARA: discórdias; BJ: discussões; Mar: rixas; P: rivalidade; BLH: separam-se em partidos; BV: esforço constante para conseguir o melhor para si próprio. (...)
As numerosas e variadas traduções desta palavra demonstram a incerteza do seu significado. No entanto, fica bastante claro o que ela quer dizer de modo geral. Descreve uma atitude errada na realização de um serviço e na detenção de um cargo. No grego secular a palavra, com seu verbo correspondente, tinha dois sentidos.

i. Erithos é trabalhador diarista, ertheuesthai, o verbo, é trabalhar por contrato, e eriheia é o trabalho contratado. A palavra pode ser usada nesse contexto, sem o menor mau sentido. (...) Mas a distância entre trabalhar por pagamento e trabalhar somente por pagamento, ou trabalhar sem outro motivo do que ver quanto a pessoa pode ganhar, não é muito grande. A palavra, portanto, pode descrever a atitude do homem que não tem consideração pela prestação do serviço, nenhum orgulho no artesanato fino, nenhuma alegria no trabalho, e que se ocupa em qualquer trabalho visando somente o que pode ganhar com ele. (...)

ii. Em Aristóteles, eritheuesthai, o verbo, adquire outro significado. Talvez, aqui também, o significado não seja totalmente claro, mas neste caso a atmosfera geral também fica clara. Em Aristóteles a palavra significa angariar votos para um cargo mediante partidários contratados, e Aristóteles alista esta atividade como uma das práticas que finalmente levam às revoluções. Rackham a traduzia por "intrigas eleitorais". Por trás disto há algo da mesma idéia que se liga ao primeiro significado da palavra. A ação política descrita acha-se na atividade de um homem cujo único motivo é a ambição partidária ou pessoal, e que não concorre a um cargo com o desejo nobre de servir ao Estado, à comunidade, e ao seu próximo, mas que apenas procura satisfazer sua ambição pessoal, seu desejo pessoal pelo poder, ou a exaltação de um partido em concorrência com outros, e não pelo bem do estado. A palavra descreve a atitude do homem que está num emprego público visando as vantagens que pode usufruir, mas, desta vez, o motivo não é tanto o lucro material ou financeiro quanto o prestígio e poder pessoais. Burton traduz a palavra pela frase: "dedicação egoísta aos seus próprios interesses."

Paulo usa a palavra quatro vezes. Em Rm 2.8 fala daqueles que são ex eritheias, aqueles que são dominados pela eritheia e que desobedecem à verdade, e contrasta-os com aqueles que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade, e fica bem claro que não se trata de glória e honra humanas. Em 2Co 12.20 usa-a no tocante aos pecados que receia achar em Corinto, ligando-a com invejas, iras, porfias, detrações, intrigas, orgulho e tumultos. Em Fp 1.17 usa-a no tocante àqueles em cuja proclamação do evangelho o motivo principal é a concorrência com ele próprio, àqueles cuja pregação visa mais frustrá-los do que glorificar a Cristo. Em Fp 2.3 conclama os filipenses a fazerem nada com eritheia ou soberba, cada um considerando os outros superiores a si mesmo, e depois segue-se a gloriosa passagem que diz como Jesus Cristo esvaziou-Se da Sua glória por amor aos homens.

Estes usos são relevantes para fixar o significado que Paulo atribuía à palavra. Deve ser notado que três das quatro ocorrências aparecem nos contextos nos quais o problema principal acha-se nos partidos em mútua concorrência dentro da Igreja. A igreja em Corinto estava dividida em partidos concorrentes entre si; na Igreja em Filipos a pregação se tornara em um meio de diminuir a Paulo ao invés de proclamar a Cristo. Em Paulo, a palavra denota claramente o espírito de ambição e rivalidade pessoais que tem como resultado um partidarismo que considera o partido acima da Igreja.

Semelhante motivação já seria bastante ruim no mundo, mas é uma tragédia quando invade a Igreja. Mas é exatamente isso o que acontece. Há aqules cuja obra na Igreja visa exaltar sua própria proeminência e importância, e que ficam amargamente decepcionados quando não recebem a posição e as honrarias que acreditam ter merecido. Há aqueles, por mais cruel que pareça ser esta declaração, que trabalham em comissões e juntas porque estes são o único lugar no mundo onde podem parecer ser alguém. O serviço deles, que parece ser voluntário, é um meio de gratificar um desejo pelo poder.

Além disso, há aqueles membros na Igreja, o pior tipo deles, que realmente planejam e fazem intrigas para apoiarem uma política ou uma linha; e é bem possível que estejam mais interessados em obter o triunfo da sua política do que o bem-estar geral da igreja. Não é impossível ouvir debates prolongados nas reuniões da Igreja onde a preocupação não visa tanto a missão da Igreja quanto o triunfo de algum partido, política, ou até mesmo pessoa dentro da Igreja.

Há uma só resposta para tudo isso. Enquanto Cristo ficar no centro da vida do indivíduo e da Igreja, eritheia, a ambição pessoal e a rivalidade partidária, não poderá sequer começar a aparecer; mas quando Cristo for removido do centro e as ambições políticas de qualquer homem se tornarem o centro, certa e inevitavelmente eritheia, a competição pessoal, invadirá a Igreja e perturbará a paz dos irmãos.

Trecho retirado do livro "As Obras da Carne e o Fruto do Espírito" de William Barclay, Volume 2. Publicado pela editora Vida Nova*.


* Os editores deixam claro em nota que a publicação desta bela obra de William Barclay não significa que endossam a teologia dele. O Prof. Barclay não era evangélico, uma vez que negava a inspiração plenária das Escrituras, a divindade de Jesus Cristo e a condenação eterna dos ímpios, entre outras doutrinas fundamentais. Os editores crêem que seria um grave erro concluir que a divulgação de suas valiosas pesquisas sobre termos gregos, visando uma compreensão maior do Novo Testamento, também inclui o apoio às posições anti-cristãs que Barclay abraçava.

sábado, 8 de maio de 2010

Penduricalho


 "Quem é este?" é a pergunta feita desde que Jesus andou pela Galiléia! Quando perdoou ao paralítico, os teólogos questionaram: "Quem é este que blasfema? Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?". Ao acalmar a tempestade, os discípulos indagaram: "Quem é este que até aos ventos e às águas dá ordens, e eles lhe obedecem?". Essa indagação ecoou pelos séculos e ninguém escapa de respondê-la, pois Jesus pergunta a cada um: "Quem você diz que eu sou?".

 As dificuldades para compreender o carpinteiro de Nazaré não foram sempre as mesmas. No início da Era Cristã, foi difícil aceitar sua humanidade. Não se duvidava de que Ele era Deus, mas resistia-se a aceitar que fosse verdadeiramente humano. Na nossa época ocorre, antes, o inverso! Não se questiona o homem Jesus, mas nega-se que seja Deus de verdade.

 Como exemplo de uma resposta pessoal, cito o testemunho que Martinho Lutero deu:
 "Até agora, por minha maldade de fraqueza congênita, fui incapaz de fazer jus às exigências de Deus. Se não puder crer que Deus, por Cristo, me perdoará o meu falhar, que dia por dia, lamento, eu estarei arruinado. Terei de desesperar.

 Mas, isso jamais farei! Pendurar-me num galho como Judas, isso não vou fazer. Vou pendurar-me no pescoço ou nos pés de Cristo, como a pecadora o fez. Apesar de eu ser pior do que ela, vou apegar-me ao meu Senhor Jesus.

No dia do Juízo final Ele dirá a Deus, o Pai: 'Este penduricalho também vai ter que passar. Verdade é que ele nada guardou, e trangrediu todos os teus mandamentos. Pai, mas ele se pendura em mim. É isso que importa! Eu morri por ele, deixa-o entrar'. Esta será a minha fé!".

Martin Weingaertner, Organizador e editor do livro Orando em Família - Meditações Diárias