sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Um dos pastores a quem eu ouço...



VALORES DOS CANDIDATOS

A candidata à presidência da república, Dilma Rousseff, tem afirmado que inverdades foram faladas a seu respeito visando prejudicar sua candidatura. Sua indignação deve-se, especialmente, ao fato de que, milhares de católicos e evangélicos, fizeram campanha para que os membros de suas igrejas não votassem na ex-ministra, em razão dos seus supostos compromissos com valores éticos contrários aos professados pelos membros de ambas as igrejas. Isso é um fato. O mais simples contato com o que está sendo veiculado na internet, mostra que milhares se opuseram a ela pelo motivo supramencionado.

Tudo isso, faz-nos pensar no fato, de que faltou nos debates desse ano, uma discussão sobre os valores que regem a vida dos candidatos ao mais alto posto da república. Querer um debate, onde a alma de ambos os postulantes à função de presidente seja revelada, não é moralismo que visa se imiscuir em áreas de foro íntimo, sem a mínima relevância para o exercício do cargo.

Somos aquilo que pensamos. O que julgamos ser verdadeiro costuma reger nossas ações. Ainda que alguns possam dizer que há muita irracionalidade nas justificativas racionais que damos para as nossas paixões ocultas, verdadeiras fontes das motivações humanas e análises racionais, a visão que temos do mundo é que determinará o curso das nossas escolhas. Não importa como esse material emergiu. O que vale é que, uma vez presente no nível da consciência, representará a escolha de caminhos bem definidos. Isso é imensamente significativo numa área na qual, a ideologia política associada à filosofia de vida, exerce papel central nas escolhas do governante.

A população tem o direito de saber que princípios regem a vida de ambos os concorrentes. Sendo assim, seria importante conhecer quais suas referências intelectuais, que livros marcaram suas vidas, qual o seu ponto de vista sobre religião, em que base seus valores morais são construídos, o que eles pensam objetivamente sobre as principais discussões éticas que vieram à tona nessas eleições entre os membros da sociedade civil.

Seria igualmente de grande valor, se oferecessem seu ponto de vista sobre alguns dos comportamentos mais polêmicos do atual governo federal: a forma como lidou com o escândalo do mensalão, a relação com o presidente venezuelano Hugo Chaves, a visita a Mahamoud Ahmadinejad, presidente do Irã, entre outros assuntos mais, que deixaram perplexos os brasileiros mais conscienciosos.

É do interesse de milhares de brasileiros também, saber o que será feito da massa de cidadãos pobres, que vivem do bolsa família, mas que precisam ser preparados para uma vida mais digna, na qual sejam senhores da sua história, inseridos no mercado de trabalho mediante boa formação educacional.

Outras questões de ordem prática, que costumam ser regidas por princípios de vida, merecem também tratamento claro e objetivo: Como o povo poderá acompanhar as ações do governo, em especial os gastos públicos? Haverá transparência? Será de fácil acesso? Teremos uma democracia participativa, na qual o povo possa estar mais próximo da classe governante? Que critérios regerão a distribuição da cargos públicos? Será a meritocracia, ou seja, os cargos de grande valor social sendo ocupados pelos mais excelentes, ou veremos o aparelhamento da máquina pública visando a perpetuação no poder? Como a população poderá aferir? Haverá metas claras para cada área de atuação do governo, seguidas de cronograma, tornadas públicas, e caso não sejam alcançadas, representarão a demissão dos ocupantes dos cargos?

Em suma, não podemos votar em quem cujos valores não conhecemos, uma vez que, lá na frente, problemas novos surgirão, e não queremos ver novamente, presidente da república, oferecer respostas para conflitos morais gravíssimos enfrentados pela nação, e passar a impressão de que, no seu ponto de vista, os fins justificam os meios, que se outros fazem, somos livres para fazer também, como ocorreu no maior tropeço ético da nossa democracia depois do regime militar, quando o executivo rasgou a Constituição Federal, ao comprar os votos do legislativo.

Como é a alma desse que vai reger a vida de mais de 190 milhões de seres humanos? Você conhece?

Antônio Carlos Costa

Teólogo calvinista

Presidente do Rio de Paz

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

domingo, 25 de julho de 2010

Filme bom tem que ter REDENÇÃO!


"Não é surpresa que Jesus tenha usado parábolas e histórias para ilustrar suas lições e explicar a natureza inexplicável do reino de Deus aos seus seguidores. Uma história nos capacita a entender uma realidade transcendente que não seríamos capazes de perceber de outra maneira, com a mera abstração racional. O filme dá vida às questões cotidianas.

Grandes filmes são como sermões narrativos. Os filmes prendem a nossa imaginação, mas também apresentam valores e visões de mundo que admiramos (ou detestamos). O objetivo é ajudar aqueles que gostam de ver filmes a discernir as idéias que levam ao desfecho da história e a perceber como elas influenciam a maneira como vivemos nossa vida – entender a história que está por trás da história.

As artes (das quais os filmes fazem parte) são meios dados por Deus para expressarmos a nossa humanidade. A criação da arte, embora prejudicada ou imperfeita, reflete a criatividade e a beleza de nosso Criador. Rejeitar completamente qualquer uma das artes é rejeitar a Imago Dei, isto é, a imagem de Deus na humanidade. Embora tenhamos caído, e nossa arte tenha sido afetada pela queda, continuamos sendo seres criados à imagem de Deus e, portanto, nossas criações continuam a refletir o nosso Criador. Como Francis Shaeffer gostava de dizer, essa imagem se revela mesmo que o artista procure escondê-la. Isso acontece porque toda a humanidade é, em certo sentido, a verdade de Deus não importa quem a esteja anunciando: um profeta, um incrédulo ou uma mula.

Embora seja verdade que a história é o alicerce de um filme, um exame da arte e da estrutura da narrativa mostra que o poder de atração do filme não é simplesmente que não são “boas histórias” de uma maneira indefinível, mas que essas histórias falam a respeito de algo. Elas narram os eventos em torno dos personagens, que vencem obstáculos para alcançar algum objetivo e, no processo, são confrontados com a necessidade pessoal de mudança. Em resumo, a narrativa de histórias nos filmes resume-se à REDENÇÃO, isto é, à recuperação de algo perdido ou a obtenção de algo necessário.

Os filmes podem ser basicamente histórias, mas essas histórias são no final, no fundo, acima de tudo e quase sempre a respeito da REDENÇÃO.

A narração de histórias pode ter muitas funções, como por exemplo, apresentam informações históricas, dar ensinamentos morais, e oferecer uma explicação espiritual. Dependendo do tipo de história, os filmes podem certamente suprir outros propósitos, mas seu aspecto redentor é, creio eu, o seu aspecto dominante.

A natureza de narrativas que possuem um propósito e uma visão de REDENÇÃO pressupõe a existência de uma maneira cristã de ver o mundo. Deus, o autor da história humana, narra histórias para mostrar o sentido da vida e a possibilidade da REDENÇÃO. A humanidade, criada à imagem de Deus, tem contado uma série de histórias dessa maneira desde a criação." (Trechos acima retirados da obra de Brian Godawa - Cinema e Fé Cristã - vendo filmes com sabedoria e discernimento).

Um verdadeiro filme cristão se caracteriza pelo seu realismo espiritual, e não pelo seu discurso ou debate por filosofias vãs. O cristianismo pode ser visto e contemplado, tanto no testemunho pessoal, como no cinema, mesmo que o próprio autor desconheça que foi um canal de graça de Deus com a humanidade.

Nós, cristãos, cremos que a regeneração do homem só pode vir como resultado da obra graciosa do Espírito Santo na salvação da alma. Antes que o homem possa adorar a Deus de modo bíblico, ele precisa conhecê-Lo como o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Esse grande Deus, onipotente, enviou seu Filho para viver a vida que não conseguimos viver, e morrer de forma como nós deveríamos ter morrido. Esse Deus gracioso tem invadido a História com a revelação da sua Palavra e a revelação do seu Filho Jesus Cristo. O evangelho se resume nos eventos históricos concernentes a nosso Senhor Jesus Cristo. Desde a sua encarnação e seu nascimento virginal e durante toda a sua vida santa para cumprir todas as exigências da Lei, em favor de todos aqueles que o Pai escolhera para dar a seu Filho, até a sua morte sacrifical em nosso lugar, e até a sua ressurreição e ascensão de volta à presença do Pai, onde Ele vive como nosso grande Sumo Sacerdote; esses grandes eventos constituem as boas-novas do evangelho. Nós os proclamamos com júbilo, por sabermos que, quando o Espírito de Deus conceder vida àqueles que estão mortos em delitos e pecados, a reação positiva daquela nova vida será uma vida somente dedicada à gloria de Deus (Soli Deo Gloria), isto é, total e completa REDENÇÃO!

sábado, 29 de maio de 2010

Perguntas Básicas acerca do Perdão



Deus realmente perdoa pecados?

Sim. A Bíblia é clara em afirmar que Deus “se esquece” dos pecados (Is 38.17; 43.25; Mq 7.18; Hb 8.12; 10.17). Ainda que tal expressão seja metafórica, isto é, comparativa, e antropomórfica, isto é, atribui a Deus atitudes humanas (neste caso, o esquecimento), a mensagem bíblica é clara: Deus perdoa os pecados.

Qualquer pecado?

Novamente, a resposta é um sonoro “sim”. A Bíblia fala do perdão divino concedido a pecados terríveis, como adultério e assassinato (no caso de Davi), e covardia (no caso de Pedro, que negou a Jesus). Estes são exemplos conhecidos. Há pelo menos um exemplo eloqüente e ilustrativo de que Deus perdoa qualquer pecado — um exemplo menos conhecido, mas talvez ainda mais impressionante que os anteriores. Trata-se da narrativa concernente ao rei Manassés, culpado de feitiçaria, massacres e crimes hediondos que incluíam até o sacrifício de seu próprio filho (2 Rs 21.1-9; 16). No entanto, arrependeu-se e foi perdoado (2 Cr 33.10-13, 18, 19 e 23).

O pecador precisa fazer alguma coisa para ser perdoado?

Não, se pensarmos em termos de merecer o perdão por méritos. Em outras palavras: à luz do ensino bíblico, não há nada que a criatura humana possa fazer para merecer o perdão. Sim, se pensarmos na necessidade do arrependimento e da fé em Cristo Jesus que todos precisam ter para que sejam perdoados. É oportuno citar: “pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” (Ef 2.8,9.)

O perdão de Deus é de uma vez só ou repetitivo?

Em um sentido, o perdão é dado uma única vez. A Bíblia apresenta o perdão como uma realidade presente, e não apenas como uma realidade futura: “se alguém está em Cristo, é nova criatura” (2 Co 5.17). Observe-se que o verbo ser está no tempo presente. Para quem está em Cristo, o perdão já é real hoje. Entretanto, cada vez que aquele que está em Cristo comete pecado, ele deve confessar sua falta e buscar o perdão divino: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9).

Assim como se fala em ricos e pobres, brancos e negros, sábios e ignorantes, é correto falar em perdoados e não-perdoados?

Sim, pois a Bíblia não ensina que o perdão será distribuído “por atacado” para todas as pessoas, independentemente se queiram ou não ser perdoadas. O perdão é para aqueles que se reconhecem pecadores. Por mais desagradável que seja aos ouvidos modernos, não há promessa de perdão para os obstinados, aqueles que se recusam a admitir seus erros.

A ala reformada da igreja cristã proclama que a possibilidade do perdão termina com a morte. Na outra vida, aquela que se inicia com a morte, o perdão é mesmo impraticável?

Sim. Biblicamente falando, não há qualquer evidência que sirva de base para uma crença em perdão post-mortem. Grupos cristãos que crêem em tal possibilidade baseiam-se em tradições e em construções teológicas elaboradas a partir de raciocínios, mas não em um claro e inequívoco ensino bíblico.

O anjo que anunciou o nascimento de Jesus aos pastores de Belém chamou-o de Salvador. O mesmo fazem os apóstolos ao correr do Novo Testamento. Em que sentido Jesus é “o Salvador do mundo” (Jo 4.42)?

No sentido em que Ele veio para salvar, sem discriminação de raça, sexo ou condição social, econômica e cultural. É sugestivo e significativo o relato da genealogia de Jesus conforme Lucas (Lc 3.23-38), que apresenta o Salvador como descendente de Adão. Segundo este relato, Jesus é parente de toda a humanidade. Também é sugestiva e significativa a visão de João, de uma multidão que ninguém podia contar, constituída de pessoas salvas pela graça, provenientes de toda nação, tribo, povo e língua (Ap 7.9,10). Jesus concede salvação pela sua graça, como já vimos. Neste sentido, Ele é o Salvador do mundo.

Respostas oferecidas por Carlos Caldas, professor do programa de pós-graduação em ciências da religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O Difícil Auto-Exame

αγαπας

Continuo a leitura do livro mencionado no meu último post e agora me encontro no capítulo III que relata o maior dos frutos do espírito - o amor ÁGAPE. Nele o autor tenta determinar o melhor significado para esta palavra e encontra na Palavra este significado. Na passagem básica em Mt 5.43-48, o próprio Jesus insiste em que o amor humano deve seguir o padrão do amor de Deus. E qual é a grande característica do amor de Deus? Deus faz vir chuvas sobre justos e injustos, e faz nascer o sol sobre maus e bons. Logo, o significado de ágape é a benevolência invencível, a boa vontade que nunca é derrotada. Ágape é o espírito no coração que nunca procurará outra coisa senão o sumo bem do seu próximo. Não se importa com o tratamento que recebe do seu próximo, nem com a natureza dele; não se importa com a atitude do próximo para com ele, nunca procurará outra coisa a não ser o sumo bem do próximo, o melhor para ele.

O amor cristão é o reflexo do amor de Deus, e dele obtém seu padrão e poder. Este amor é totalmente imerecido, porque a prova dele é que, enquanto éramos pecadores, Cristo morreu por nós (Rm 5.8). O processo inteiro da salvação tem seu início no amor de Deus, não merecido por nós. Além disso, o amor de Deus é um amor que produz e transforma. É aquele amor que, derramado no coração dos homens, produz as grandes qualidades da vida e do caráter cristãos (Rm 5.3-5).

Num dos trechos do livro o autor menciona Efésios 3.19 onde está escrito que "o amor excede todo entendimento", ou seja, o amor é sempre um mistério. Qualquer pessoa que é amada fica atônita, perguntando a si mesma por que aquilo acontece. O amor de Cristo não é algo a ser explicado; é algo diante do qual o homem somente pode maravilhar-se, prestar culto e adorar. O amor de Jesus Cristo é o padrão da vida cristã, ou seja, o cristão deve andar conforme Cristo o amou (Ef 5.2). O cristão não é perseguido pelo medo a fim de ser bom; é elevado até a bondade mediante a obrigação do amor que desperta a generosidade que está adormecida na alma.

Paulo escreve aos coríntios "Todos os vossos atos sejam feitos com amor" (1Co 16.14). O Sermão do Monte nos deixa sem dúvidas quanto à importância dos motivos do coração na vida cristã (Mt 5.21-48). Há um tipo de generosidade cujo motivo principal é obter prestígio. Há um tipo de advertência e repreensão que brota do deleite em ferir as pessoas e em vê-las afastando-se. Há até mesmo um tipo de labuta e serviço que provém do orgulho. O autor também nos adverte ao lembrar que um dos deveres mais negligenciados da vida cristã é o auto-exame, e talvez isto seja negligenciado por ser um exercício muito humilhante. Se nos examinarmos, é bem possível que descubramos que não há quase nada neste mundo que façamos com motivos puros e sem mistura. Ainda que seja assim, devemos continuar a colocar diante de nós o padrão pelo qual devemos viver, a insistência de que o único motivo cristão é o amor.

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Um pouco de grego antigo:

"Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeirinhos. Tornou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Pastoreia as minhas ovelhas. Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Entristeceu-se Pedro por lhe ter perguntado pela terceira vez: Amas-me? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas". João 21: 15-17

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σιμων ιωνα αγαπας με πλειον τουτων;
Simão de João amas me mais do que estes?

δευτερον λεγει αυτω ναι κυριε συ οιδας οτι φιλω σε
segunda vez diz a ele sim Senhor tu sabes que gosto de ti

quarta-feira, 19 de maio de 2010

ERITHEIA


B: facções; ARC: pelejas; ARA: discórdias; BJ: discussões; Mar: rixas; P: rivalidade; BLH: separam-se em partidos; BV: esforço constante para conseguir o melhor para si próprio. (...)
As numerosas e variadas traduções desta palavra demonstram a incerteza do seu significado. No entanto, fica bastante claro o que ela quer dizer de modo geral. Descreve uma atitude errada na realização de um serviço e na detenção de um cargo. No grego secular a palavra, com seu verbo correspondente, tinha dois sentidos.

i. Erithos é trabalhador diarista, ertheuesthai, o verbo, é trabalhar por contrato, e eriheia é o trabalho contratado. A palavra pode ser usada nesse contexto, sem o menor mau sentido. (...) Mas a distância entre trabalhar por pagamento e trabalhar somente por pagamento, ou trabalhar sem outro motivo do que ver quanto a pessoa pode ganhar, não é muito grande. A palavra, portanto, pode descrever a atitude do homem que não tem consideração pela prestação do serviço, nenhum orgulho no artesanato fino, nenhuma alegria no trabalho, e que se ocupa em qualquer trabalho visando somente o que pode ganhar com ele. (...)

ii. Em Aristóteles, eritheuesthai, o verbo, adquire outro significado. Talvez, aqui também, o significado não seja totalmente claro, mas neste caso a atmosfera geral também fica clara. Em Aristóteles a palavra significa angariar votos para um cargo mediante partidários contratados, e Aristóteles alista esta atividade como uma das práticas que finalmente levam às revoluções. Rackham a traduzia por "intrigas eleitorais". Por trás disto há algo da mesma idéia que se liga ao primeiro significado da palavra. A ação política descrita acha-se na atividade de um homem cujo único motivo é a ambição partidária ou pessoal, e que não concorre a um cargo com o desejo nobre de servir ao Estado, à comunidade, e ao seu próximo, mas que apenas procura satisfazer sua ambição pessoal, seu desejo pessoal pelo poder, ou a exaltação de um partido em concorrência com outros, e não pelo bem do estado. A palavra descreve a atitude do homem que está num emprego público visando as vantagens que pode usufruir, mas, desta vez, o motivo não é tanto o lucro material ou financeiro quanto o prestígio e poder pessoais. Burton traduz a palavra pela frase: "dedicação egoísta aos seus próprios interesses."

Paulo usa a palavra quatro vezes. Em Rm 2.8 fala daqueles que são ex eritheias, aqueles que são dominados pela eritheia e que desobedecem à verdade, e contrasta-os com aqueles que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade, e fica bem claro que não se trata de glória e honra humanas. Em 2Co 12.20 usa-a no tocante aos pecados que receia achar em Corinto, ligando-a com invejas, iras, porfias, detrações, intrigas, orgulho e tumultos. Em Fp 1.17 usa-a no tocante àqueles em cuja proclamação do evangelho o motivo principal é a concorrência com ele próprio, àqueles cuja pregação visa mais frustrá-los do que glorificar a Cristo. Em Fp 2.3 conclama os filipenses a fazerem nada com eritheia ou soberba, cada um considerando os outros superiores a si mesmo, e depois segue-se a gloriosa passagem que diz como Jesus Cristo esvaziou-Se da Sua glória por amor aos homens.

Estes usos são relevantes para fixar o significado que Paulo atribuía à palavra. Deve ser notado que três das quatro ocorrências aparecem nos contextos nos quais o problema principal acha-se nos partidos em mútua concorrência dentro da Igreja. A igreja em Corinto estava dividida em partidos concorrentes entre si; na Igreja em Filipos a pregação se tornara em um meio de diminuir a Paulo ao invés de proclamar a Cristo. Em Paulo, a palavra denota claramente o espírito de ambição e rivalidade pessoais que tem como resultado um partidarismo que considera o partido acima da Igreja.

Semelhante motivação já seria bastante ruim no mundo, mas é uma tragédia quando invade a Igreja. Mas é exatamente isso o que acontece. Há aqules cuja obra na Igreja visa exaltar sua própria proeminência e importância, e que ficam amargamente decepcionados quando não recebem a posição e as honrarias que acreditam ter merecido. Há aqueles, por mais cruel que pareça ser esta declaração, que trabalham em comissões e juntas porque estes são o único lugar no mundo onde podem parecer ser alguém. O serviço deles, que parece ser voluntário, é um meio de gratificar um desejo pelo poder.

Além disso, há aqueles membros na Igreja, o pior tipo deles, que realmente planejam e fazem intrigas para apoiarem uma política ou uma linha; e é bem possível que estejam mais interessados em obter o triunfo da sua política do que o bem-estar geral da igreja. Não é impossível ouvir debates prolongados nas reuniões da Igreja onde a preocupação não visa tanto a missão da Igreja quanto o triunfo de algum partido, política, ou até mesmo pessoa dentro da Igreja.

Há uma só resposta para tudo isso. Enquanto Cristo ficar no centro da vida do indivíduo e da Igreja, eritheia, a ambição pessoal e a rivalidade partidária, não poderá sequer começar a aparecer; mas quando Cristo for removido do centro e as ambições políticas de qualquer homem se tornarem o centro, certa e inevitavelmente eritheia, a competição pessoal, invadirá a Igreja e perturbará a paz dos irmãos.

Trecho retirado do livro "As Obras da Carne e o Fruto do Espírito" de William Barclay, Volume 2. Publicado pela editora Vida Nova*.


* Os editores deixam claro em nota que a publicação desta bela obra de William Barclay não significa que endossam a teologia dele. O Prof. Barclay não era evangélico, uma vez que negava a inspiração plenária das Escrituras, a divindade de Jesus Cristo e a condenação eterna dos ímpios, entre outras doutrinas fundamentais. Os editores crêem que seria um grave erro concluir que a divulgação de suas valiosas pesquisas sobre termos gregos, visando uma compreensão maior do Novo Testamento, também inclui o apoio às posições anti-cristãs que Barclay abraçava.

sábado, 8 de maio de 2010

Penduricalho


 "Quem é este?" é a pergunta feita desde que Jesus andou pela Galiléia! Quando perdoou ao paralítico, os teólogos questionaram: "Quem é este que blasfema? Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?". Ao acalmar a tempestade, os discípulos indagaram: "Quem é este que até aos ventos e às águas dá ordens, e eles lhe obedecem?". Essa indagação ecoou pelos séculos e ninguém escapa de respondê-la, pois Jesus pergunta a cada um: "Quem você diz que eu sou?".

 As dificuldades para compreender o carpinteiro de Nazaré não foram sempre as mesmas. No início da Era Cristã, foi difícil aceitar sua humanidade. Não se duvidava de que Ele era Deus, mas resistia-se a aceitar que fosse verdadeiramente humano. Na nossa época ocorre, antes, o inverso! Não se questiona o homem Jesus, mas nega-se que seja Deus de verdade.

 Como exemplo de uma resposta pessoal, cito o testemunho que Martinho Lutero deu:
 "Até agora, por minha maldade de fraqueza congênita, fui incapaz de fazer jus às exigências de Deus. Se não puder crer que Deus, por Cristo, me perdoará o meu falhar, que dia por dia, lamento, eu estarei arruinado. Terei de desesperar.

 Mas, isso jamais farei! Pendurar-me num galho como Judas, isso não vou fazer. Vou pendurar-me no pescoço ou nos pés de Cristo, como a pecadora o fez. Apesar de eu ser pior do que ela, vou apegar-me ao meu Senhor Jesus.

No dia do Juízo final Ele dirá a Deus, o Pai: 'Este penduricalho também vai ter que passar. Verdade é que ele nada guardou, e trangrediu todos os teus mandamentos. Pai, mas ele se pendura em mim. É isso que importa! Eu morri por ele, deixa-o entrar'. Esta será a minha fé!".

Martin Weingaertner, Organizador e editor do livro Orando em Família - Meditações Diárias